segunda-feira, 20 de junho de 2022

ARTIGO - PREPARAÇÃO PARA A PARENTALIDADE EM PANDEMIA – ANÁLISE SWOT

CURSO DE PREPARAÇÃO PARA O NASCIMENTO E PARENTALIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA: TRABALHAR A PROXIMIDADE A DISTÂNCIA. UMA ANÁLISE SWOT DO PROCESSO DE ADAPTAÇÃO.

PREPARAÇÃO PARA A PARENTALIDADE NA PANDEMIA – ANÁLISE SWOT

Autores: Elsa Inês Esteves da Silva Maia; Emília Isabel Martins Teixeira da Costa; Emiliana Guerreiro Martins; Filomena Adelaide Pereira Sabino de Matos.

RESUMO

O Centro de Saúde de Tavira oferece, desde há vários anos, em resposta ao preconizado pela Direção Geral de Saúde e pela Ordem dos Enfermeiros, um curso de preparação para a parentalidade.

Face às restrições de contactos exigidas pela situação pandémica Covid-19, os serviços organizaram-se. O curso passou a ser ministrado maioritariamente a distância, mantendo os contactos com os novos pais assim como a oportunidade de apoiar cada nova família.

Após um ano do novo formato do curso a distância, inquirimos os novos pais acerca da sua avaliação/opinião e, utilizando a técnica do brainstorming, foi feita uma avaliação pelos profissionais que ministram o curso.

Fizemos uma análise SWOT das avaliações referidas. Salientamos como pontos fortes a possibilidade de cuidados de proximidade e a segurança pandémica durante o confinamento, a facilidade de acesso e a economia de escala, como pontos fracos, a dificuldade de equipamento e de validação de conteúdos apreendidos, como oportunidades o maior conforto da grávida e a promoção da equidade ao acesso de cuidados e como ameaças os problemas técnicos e o facto de a existência de rede informática ainda não ser universal no nosso país.

Salientamos que esta situação pode ser replicada em qualquer lugar do mundo, desde que haja rede e equipamento informático.

PALAVRAS-CHAVE: enfermagem; enfermagem materno-infantil; parentalidade; avaliação de programa de enfermagem; gestão em saúde; telemedicina

BIRTH AND PARENTHOOD’S PREPARATION COURSE IN PANDEMIC TIMES: WORKING PROXIMITY AT DISTANCE: A SWOT ANALYSIS OF THE ADAPTATION PROCESS. – PREPARATION FOR PARENTHOOD IN THE PANDEMIC -SWOT ANALYSIS

ABSTRACT

In response to Portuguese Health Organization and Order of Nurses’ recommendations, Tavira’s Health Center, has been offering, for several years, a course to prepare to parenthood.

Faced with the contact restrictions imposed by the Covid-19 pandemic situation, the services organized themselves. The course is now mostly taught at distance, maintaining contacts with the new parents as well as the opportunity to support each new family.

One year after the course’s new format, we asked the new parents about their appraisal/opinion and, using the brainstorming technique, an assessment was performed by the professional who teach in the course.

Finally, we did a SWOT analysis of mentioned assessments. We highlight as strengths the proximity care as well as the security during the confinement, the comfort access, and the scale economy. By other hand, as weaknesses, we find the difficulty of equipment and the non-presential validation of contents learned. In opportunities, we emphasise the great comfort of pregnant as well as the promotion of equity in care access and as threats technical problems and the fact that the existence of a computer network is still not universal in our country.

We emphasize that, if there is a network and computer equipment, this situation can be replicated anywhere in the world.

Key-words: Nursing; maternal-child nursing; parenting; nursing evaluation research; health management; telemedicine

Introdução

Os Cuidados de Saúde têm arrostado progressivamente novos desafios. O Sistema redefiniu-se, reestruturou-se e readaptou-se às novas necessidades de uma sociedade mutante pelos movimentos migratórios, pelas novas formas de família, pela inversão da pirâmide populacional, pelo desenvolvimento tecnológico, pela desejada centralidade da pessoa e família nas decisões em saúde. A estes novos reptos, o último ano acresceu as incomensuráveis exigências da situação pandémica. Profissionais de saúde e utilizadores dos cuidados tiveram que se reinventar para que as necessidades básicas em saúde fossem supridas e não emergissem profundas desigualdades.

A grave situação epidemiológica que surgiu nos primeiros meses de 2020 testou duramente a resiliência do Serviço Nacional de Saúde (SNS). A pandemia levou o Governo Português a declarar o estado de emergência, aprovando um conjunto de medidas que visaram não só garantir o tratamento da COVID-19 em Portugal, mas também a minimizar o risco de transmissão da doença, protegendo principalmente os grupos mais vulneráveis(1). Este facto ficou bem patente no despacho da Ministra da Saúde de 16 de março de 2020, onde se determinou que nos serviços de saúde se deveria priorizar a resposta aos doentes COVID-19, suspendendo os cuidados não urgentes, considerando, no entanto, algumas exceções neste âmbito, sublinhando, nomeadamente, que não poderia ser limitado o acesso a tratamentos periódicos ou de vigilância de saúde, como é o caso do acompanhamento da gravidez(2).

A gravidez não é uma situação patológica, mas cada gravidez é diferente e única. Para além de ser uma situação transicional ela é, em si mesma, diversa. A acessibilidade a cuidados especializados de saúde no planeamento da gravidez, na sua vigilância, no parto e no pós-parto, demonstrou ao longo do século XX, a diminuição da morbilidade e mortalidade materna, fetal e infantil. Nos últimos 35 anos a proporção de mulheres com consultas de vigilância pré-natal e com frequência de cursos de preparação para a parentalidade teve um enorme incremento. A mortalidade materna e infantil (perinatal, neonatal e no primeiro ano de vida) foram reduzidas progressivamente, colocando Portugal entre os países com melhores indicadores na saúde materno-infantil a nível mundial(3).

O acompanhamento do ciclo maternal feito pelos cuidados de saúde é um inquestionável investimento a longo prazo na saúde de toda a população. Dos profissionais presentes neste período sensível, espera-se que prestem cuidados de saúde de proximidade, altamente qualificados, especializados e individualizados, reconhecendo-se este período como uma oportunidade imperdível para a promoção da saúde e capacitação da mulher e sua família, não só para a transição para a parentalidade, mas também, como já referido, na modificação, mais duradoura de estilos de vida e de comportamentos que se prolongam ao longo de todo o ciclo vital(3).

A transição para a parentalidade é hoje vivida pelas famílias de uma forma mais consciente e comprometida. A tendente universalização da informação em saúde, que constatamos nas últimas décadas, tem facilitado a responsabilização parental e a tomada de consciência do impacto que este processo de transição tem, na saúde global de pais e filhos. A gravidez é uma oportunidade não negligenciável de fortalecer a literacia em saúde das famílias. Por ser um dos períodos da vida em que a utilização dos cuidados de saúde se amplia e que a motivação para a mudança comportamental é maior não pode, em nenhuma circunstância, ser desvalorizado ou negligenciado.

Face à preocupante situação pandémica que se instaurou no início de 2020, a Direção Geral de Saúde (DGS), na sua orientação nº 018/2020 de 30 de março(4) sublinha que, não obstante, a gravidez não parecer aumentar o risco de infeção por SARS-CoV-2, a evidência assinala o aumento do risco de progressão para uma situação de doença grave. Tendo em conta estes dados, a DGS reconhece neste documento, a necessidade de reorganização dos cuidados de saúde face à situação pandémica pela COVID-19, sublinhando que será mandatório que a grávida continue a receber os cuidados de saúde que necessita nesta fase da vida, com qualidade e segurança. A orientação nº 018/2020 refere também que a vigilância da gravidez de baixo risco deve ser mantida de acordo com as orientações emanadas e que as consultas pré-natais que não tenham obrigatoriedade de ser presenciais, podem ser transformadas em teleconsultas, desde que se cumpram determinados pressupostos, como é o caso de a grávida estar de acordo e existirem meios tecnológicos adequados na unidade de saúde.

Segundo a DGS(3), em Portugal, todos os casais que estão a vivenciar um processo de gravidez devem ter a oportunidade de frequentar os Cursos de Preparação para o Nascimento e Parentalidade (CPNP), disponíveis nos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES), fazendo parte da carteira de serviços das Unidades de Cuidados na Comunidade (UCC). Esta é uma intervenção diferenciada que privilegia os cuidados centrados na família.

Os programas de preparação para a parentalidade visam apoiar e promover a saúde da mulher e do seu filho e, além disso, aumentar a tomada de consciência sobre as necessidades das crianças nos primeiros tempos de vida, desenvolvendo também a proximidade com outras mães e pais que estão a vivenciar o mesmo processo de transição, fortalecendo o seu papel(5). Esta intervenção permite desenvolver a confiança e promover competências na grávida/casal/família para a vivência da gravidez, parto e transição para a parentalidade, incentivando o desenvolvimento de capacidades interativas e precoces da relação da tríade(6).

Neste enquadramento facilmente se entende que o planeamento consciente e responsável de uma gravidez deverá ser uma prioridade do casal que pretende conceber um filho e também dos serviços de saúde que os acompanham, assumindo particular pertinência nesta época pandémica. O casal deverá efetuar uma consulta pré concecional de forma a ser informado convenientemente dos procedimentos a levar a cabo, para que a gestação se desenvolva num ambiente salutar, com uma vigilância adequada.

Contudo, estamos conscientes de que o confinamento e a eventual dificuldade de acesso a consultas de saúde pré concecionais poderá não favorecer o planeamento da gravidez da forma ideal, podendo incrementar a probabilidade de gestações não planeadas, que carecem de um acompanhamento de saúde ajustado ao grau de risco avaliado. Sublinhamos que a consecução das consultas de vigilância preconizadas para a gravidez de alto e baixo risco e os CPNP, vertente pré e pós-parto, são essenciais para a promoção de uma parentalidade salutar em todas as vertentes biopsicossociais da família, em qualquer circunstância.

A UCC Talábriga é uma UCC do ACES Algarve III - Sotavento da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve que serve a Comunidade do Concelho de Tavira e contratualiza na sua carteira de serviços o CPNP desde 2011.

A UCC Talábriga disponibiliza toda a sua carteira de serviços aos residentes, mesmo que temporários, na área geográfica do concelho de Tavira desde que inscritos no ACES Sotavento. A população residente no concelho é de 26 167 habitantes(7). Em maio de 2021 encontravam-se inscritos no Centro de Saúde de Tavira 28 567 utentes, destes destacam-se 5 286 mulheres em idade fértil (15-49 anos), população-alvo para o CPNP, e 159 crianças com menos de um ano de idade (8).

Nesta UCC a organização e coordenação do CPNP é da responsabilidade da Enfermeira Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia (EESMO). O curso engloba duas fases: pré-parto e pós-parto seguindo as orientações emanadas no parecer nº 4 /2016 da Mesa do Colégio da Especialidade de Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia (MCEESMO) da Ordem dos Enfermeiros (OE)(9). O CPNP é desenvolvido por uma equipa multidisciplinar constituída por: duas EESMO, dois Enfermeiros Especialistas em Saúde Infantil e Pediatria (EESIP), um Técnico de Desporto, uma Nutricionista, uma Higienista Oral, uma Psicóloga e uma Técnica Superior de Serviço Social.

Desde 2015, este programa segue as orientações nacionais (DGS) e regionais (ARS), emanadas no sentido de uniformizar os cursos no que diz respeito aos critérios de referenciação e aos seus conteúdos. O estabelecimento de um CPNP acompanhando a mulher e família durante o ciclo maternal permite entre outros aspetos, diminuir a ansiedade que a gravidez provoca no pai e na mãe, identificar as perturbações da ansiedade na gravidez, empoderar o casal para o nascimento do bebé, identificar precocemente necessidades da mãe/pai e do bebé, prevenir situações patológicas que possam colocar em risco a vida e a saúde do bebé e da mãe, promover a literacia em saúde, favorecer a vinculação, identificar situações patológicas no pós-parto e apoiar o casal em situação de eventual luto.

A DGS(3) preconiza que na preparação para o parto e parentalidade sejam abordadas temáticas acerca de: transformações físicas e psicológicas da gravidez e parentalidade, desenvolvimento fetal, saúde oral, trabalho de parto, tipos de parto, analgesia no parto, papel do acompanhante, massagem ao períneo e criopreservação de células estaminais. Para além destas, deverão ser também abordadas: cuidados no puerpério e ao recém-nascido, prevenção de acidentes, aleitamento materno, massagem infantil, desenvolvimento das competências adequadas para o desempenho dos novos papeis e direitos e deveres parentais. Os cursos devem ter, para além da componente teórica, uma componente prática onde sejam tratados entre outros aspetos, atividades para promover a vinculação mãe/pai/bebé, como a massagem infantil.

A MCEESMO da OE através do parecer vinculativo nº 4/2016, emite orientações que integram as emitidas pela DGS no programa nacional de vigilância de gravidez de baixo risco (PNVGBR) relativamente aos cursos de preparação para o parto e parentalidade (CPPP) e dos cursos de recuperação pós-parto (CRPP)(3,9). Estas recomendações regulamentam o exercício do EESMO, reforçando as suas competências na organização e implementação desses cursos através de orientações acerca das temáticas a abordar em termos teórico-práticos(10). Este profissional encontra-se habilitado para organizar os referidos cursos seguindo o parecer nº 4/2016 da MCEESMO integrando também outros profissionais, favorecendo assim, a multidisciplinaridade profissional(9).

A carga horária dos cursos deverá ser ajustada de acordo com as caraterísticas dos grupos, devendo ser no máximo de duas horas por sessão e duas a três sessões por semana. O

CPPP deverá ser iniciado preferencialmente entre as 28 e as 32 semanas de gestação, após consulta prévia do EESMO (presencial ou não). Idealmente a grávida /casal deverá frequentar 70% do total das sessões. O CRPP deverá ser iniciado preferencialmente até à 6ª semana após o parto(9).

Relativamente às temáticas teóricas a abordar no CPPP, o parecer da MCEESMO corrobora com as descritas anteriormente no PNVGBR(3). Estas, recomendam ainda atividades com vista à promoção da vinculação entre mãe/pai/bebé, treino de posicionamentos a ter durante o trabalho de parto e treino de técnicas de respiração e relaxamento. Sugerem ainda a elaboração do Plano de Nascimento pelo casal e aconselham uma visita à maternidade escolhida para o parto(9).

Se a vigilância da gravidez é indispensável para uma gravidez saudável e um parto com sucesso, o apoio após o parto é, para a nova família, uma ferramenta imprescindível para a construção de um autoconceito familiar positivo. Neste contexto, o seguimento da tríade mãe-bebé-pai continua a ser necessário. A disponibilidade para receber a nova família nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) e a qualidade do acompanhamento que é propiciado, contribui para aumentar a literacia em saúde, o conceito de competência familiar e de competência de se ser mãe e pai. Face ao recém-nascido, os pais querem sempre fazer o melhor, mas muitas inseguranças emergem, particularmente, nas situações de primeiro filho. A informação atualizada acerca do desenvolvimento do bebé, de como promover um clima de relaxamento, de como resolver situações de stress como o choro ou as birras, e da prevenção de acidentes é algo que os pais têm necessidade e o CRPP é uma mais-valia importante nesse contexto.

De acordo com o descrito no parecer da OE(9) , as atividades desenvolvidas no período pós-parto têm por finalidade a promoção da saúde da mulher e família numa perspetiva holística, dando resposta a todas as transformações características do período puerperal, facilitando o desenvolvimento das competências necessárias para cuidar do seu filho, capacitando para o papel parental e para o reforço da vinculação, permitindo a criação de uma rede de interajuda pelos pares (os outros pais a vivenciar o mesmo processo) e valorizando também a recuperação física.

Conscientes do referido anteriormente no que diz respeito à organização e qualidade do CPNP, a equipa da UCC Talábriga sentiu, no primeiro confinamento, a necessidade de adequar os cuidados prestados aos constrangimentos pandémicos e aos recursos humanos existentes. A presença de novas prioridades implicou uma nova realidade laboral e uma constante adaptação às necessidades e à imposição de novas regras relativas à segurança de utentes e profissionais. Os meses imediatos ao início da pandemia foram de enorme pressão no serviço, desafiando a capacidade de resiliência da equipa da UCC e afetando particularmente o CPNP.

Nesta época de insegurança, medo do desconhecido, isolamento social e acréscimo de trabalho, as grávidas/ casais inscritos para início do curso em abril, maio, junho e julho de 2020 não o realizaram segundo o anteriormente preconizado. A organização do curso foi adaptada à pandemia pela COVID-19 e às consequentes restrições, suprimindo as sessões presenciais. A população-alvo inscrita foi apoiada através de consultas não presenciais (maioritariamente telefónicas) onde foram fornecidas informações visando ampliar a literacia em saúde, adaptadas às temáticas habitualmente abordadas no curso e complementadas com documentos informativos enviados via email. Posteriormente, com o aliviar das restrições e com a reorganização da equipa e disponibilidade de recursos tecnológicos foi possível retomar a modalidade de curso em grupo, a distância, permitindo a partilha entre pares e ao mesmo tempo garantindo a segurança necessária em tempos de pandemia, efetuando as sessões por videoconferência e mantendo o apoio individual presencial ou não presencial.

O CPNP da UCC Talábriga tem como população-alvo todas as grávidas/mães/ pais e crianças até 1 ano de idade residentes no Concelho de Tavira e/ou inscritas no ACES Sotavento. São admitidas todas as inscrições, sem limite, não tendo sido até ao momento necessário desenvolver critérios de seleção para o curso, pois o número de utentes-alvo do projeto existentes no concelho, é facilmente assumido pela equipa nesta nova metodologia. Este projeto admite todas as utentes com vigilância nos CSP (gravidez de baixo risco), mas também integra as utentes com gravidez de risco seguidas no hospital público ou privado, promovendo a integração de cuidados.

As atividades desenvolvidas no CPNP, durante este período, englobaram o apoio individual e de grupo ainda que, na sua maioria, de forma não presencial. Privilegiou-se o apoio individual por telefone, via WhatsApp ou por videoconferência, promovendo a proximidade, a acessibilidade e o bem-estar físico e mental da puérpera/mãe dando continuidade ao curso.

No que respeita à organização do CPNP, adaptado à situação pandémica, mantém o formato pré-parto e pós-parto. No pré-parto segue o seguinte esquema: formação dos grupos; realização de duas consultas personalizadas, presenciais ou não presenciais com o EESMO, adaptadas às necessidades manifestadas pela grávida/casal e apresentação de cerca de onze sessões não presenciais por videoconferência utilizando a plataforma Teams®.

A formação de grupos é feita com grávidas/ casais com idade gestacional superior a 28 semanas de gestação; as consultas personalizadas acontecem antes do início do curso e por volta da 37ª semana de gestação. Sempre que a situação pandémica o permitir,

privilegia-se a consulta presencial para realização de treino/aquisição de competências mais práticas. Atualmente a aula pré-início do curso tem sido realizada telefonicamente, por preferência das grávidas e a da 37ª semana presencialmente, para aferir a aquisição de competências do casal.

Como referido, as sessões a distância, usam a plataforma Teams®, sendo abordados diversos conteúdos, como são exemplo: anatomia, fisiologia e desconfortos da gravidez, alimentação saudável e higiene oral na gravidez, no pós-parto e com o bebé/criança, trabalho de parto, parto e controle do bem-estar materno-fetal, métodos de alívio da dor no trabalho de parto, aleitamento materno, adaptação relacional e emocional do casal /família ao processo de se tornarem pais, cuidados ao bebé e segurança infantil, parentalidade positiva, legislação e puerpério.

No pós-parto, a organização das sessões em grupo por Teams® tem início durante o primeiro mês após o parto (de preferência até à 6ª semana após o nascimento) e, sempre que possível, mantêm-se os mesmos elementos do curso pré-parto, podendo, no entanto, integrar outros pais. As atividades a efetuar no pós-parto compreendem: fornecer informações sobre a importância da realização de exercícios físicos para uma melhor recuperação do tónus muscular, fortalecimento do pavimento pélvico e aquisição de uma postura corporal adequada, apoio individual e em grupo acerca da adaptação relacional e emocional do casal/família, aleitamento materno, massagem infantil, prevenção de acidentes e desobstrução da via aérea durante o primeiro ano de vida.

Durante o curso disponibiliza-se material de consulta via email e apoio individual sempre que necessário. A integração dos cuidados também se encontra assegurada, quer no ACES, quer com o hospital de referência (Centro Hospitalar Universitário do Algarve).

Cabe referir que, todas as grávidas/puérperas preenchem um documento de consentimento informado para a utilização de dados pessoais ao participarem no CPNP.

A nova modalidade do curso teve início em agosto de 2020 e até agosto de 2021 foram realizados oito cursos pré-parto e três pós-parto. Efetuaram o curso completo na modalidade pré-parto e pós-parto 60 mães/casais + 40 bebés (pós-parto) e estão ainda em formação 35 grávidas/casais (pré-parto).

Tendo em conta os desafios colocados pela pandemia da COVID-19 e tendo por referência todos os pressupostos previamente elencados e o compromisso de prestar cuidados de excelência a esta população, independentemente das circunstâncias, a equipa do CPNP da UCC Talábriga mobilizou todos os esforços, criatividade e disponibilidade para manter uma oferta de cuidados seguros, integrados, oportunos, equitativos e centrados na mulher/família. Para poder cumprir esse desígnio, foram traçadas metas e delineado um percurso tão inovador quanto desafiante, para todos os interlocutores envolvidos neste processo. Esta adaptação, permitiu manter o acesso das mulheres e famílias, a viver o processo de transição para a parentalidade, a cuidados diferenciados, integrados e de elevada qualidade, mantendo uma gestão eficaz das respostas às necessidades da população-alvo, num enquadramento tão desafiante como tem sido o contexto pandémico.

Face a todo este processo de adaptação, inovação e resiliência urge fazer uma reflexão sobre os pontos fortes, os pontos fracos, as ameaças e as oportunidades que emergiram com esta situação. Desta forma pretendemos neste artigo apresentar uma análise descritiva de toda esta problemática, utilizando uma abordagem qualitativa para fazer uma análise SWOT do CPNP da UCC Talábriga no período pandémico.

A análise SWOT é uma técnica que permite a avaliação de serviços ou programas de qualquer tipo de organização, sendo uma ferramenta utilizada para o planeamento e gestão estratégica nas organizações(11). A gestão estratégica é o processo contínuo de criação, implementação e avaliação de decisões que permitem a uma organização atingir seus objetivos. Este tipo de abordagem permite que uma organização seja mais proativa do que reativa na definição do seu próprio futuro; permite que uma organização inicie e influencie, em vez de apenas responder às circunstâncias e, assim, seja capaz de exercer controle sobre seu próprio destino, usando esta metodologia de forma eficaz para construir uma estratégia organizacional e uma abordagem competitiva(11).

De acordo com o modelo sistémico, as organizações são constituídas por todos os elementos que estão em interação com seus ambientes e comportam vários subsistemas. Nesse sentido, uma organização existe em dois ambientes, um interno e outro externo. É imprescindível analisar esses ambientes para planear as práticas de gestão estratégica. Este processo de examinar a organização e o seu ambiente é denominado Análise SWOT(11).

A análise SWOT é uma técnica que ajuda a avaliar os pontos fortes e fracos (aspetos internos e controláveis) e as oportunidades e ameaças (aspetos externos e mais dificilmente controláveis), envolvidas em quaisquer processos organizacionais e programas. Esta abordagem ajuda qualquer organização a obter insights sobre o que aconteceu no passado permitindo também pensar em diferentes soluções possíveis para os potenciais problemas que a organização possa enfrentar no futuro(12).

Neste enquadramento e conscientes de que, neste processo de adaptação imposto pela pandemia, há mudanças que são irreversíveis e que, não obstante todas as ameaças identificadas, outras possibilidades também emergiram abrindo novas portas de

oportunidade que não poderão ser ignoradas, cabendo refletir para repensar o futuro pós pandémico. Para o efeito foi feita então uma análise SWOT de todas as alterações que foram implementadas e de como esta experiência foi vivenciada pelos seus atores: pais e profissionais de saúde.

Objetivo

Fazer uma análise SWOT da adaptação do CPNP à situação pandémica Covid-19, tendo por base a experiência vivida pelos principais intervenientes (pais e profissionais), que possibilite definir a estratégia mais eficiente de programação dos próximos cursos em contexto pandémico e pós pandémico, assegurando a qualidade do programa particularmente nas vertentes da segurança, acessibilidade e centralidade dos cuidados.

Metodologia

Para a realização da análise SWOT optamos por contemplar dois aspetos considerados fundamentais por Phadermrod, Crowder e Wills(13): a perspetiva do utilizador (os pais) e a perspetiva dos profissionais de saúde que colaboram no curso. Estes autores defendem que este tipo de análise deve ser feito considerando também a ótica do cliente em vez de ser avaliada unicamente do ponto de vista da organização, por forma a poder garantir que as capacidades percebidas pela organização são reconhecidas e valorizadas pelos clientes.

Assim, num primeiro momento e no âmbito da avaliação do CPNP, assegurando todas as demandas éticas e de proteção de dados (assinatura de consentimento informado de tratamento de dados e anonimato das respostas) efetuámos através da plataforma Google Forms© um questionário de avaliação do curso, que foi enviado para o email das utentes. Esta avaliação, permitiu não só avaliar o nível de satisfação com o curso, como também efetuar uma apreciação dos pontos fortes e fracos e das fragilidades e oportunidades deste programa, na perspetiva dos utilizadores.

Num segundo momento, foi levada a cabo uma estratégia de brainstorming entre os profissionais de saúde que constituem a equipa do CPNP. O Brainstorming é uma técnica para fomentar a criatividade de um grupo, através da qual é trabalhada a elaboração de ideias sobre uma determinada temática, ideias estas que são partilhadas entre os seus membros de forma espontânea, mas dirigida, a fim de encontrar respostas às questões práticas identificadas(14). O procedimento seguiu as guidelines sugeridas por Osborn(15). Foi selecionado um grupo de cinco elementos, incluindo o facilitador, tendo sido este papel assumido pelo coordenador da equipa de CPNP. Foram feitas três reuniões, por videoconferência, na primeira das quais o facilitador especificou o objetivo, definiu papeis e indicou a estratégia de trabalho. Nas reuniões seguintes foram feitas três rondas de discussão em cada sessão, durante as quais foram produzidas ideias que, progressivamente, se organizaram em torno das diferentes categorias da análise SWOT – pontos fortes e pontos fracos, oportunidades e ameaças. Deste processo resultou a identificação dos fatores SWOT com uma percentagem de concordância de mais de 95% entre os diferentes elementos do grupo, para cada um dos aspetos elencados.

Aspetos éticos

Todos os participantes assinaram o termo de consentimento informado de tratamento de dados e anonimato das respostas e a utilização dos dados anonimamente recolhidos foi dada pela Senhora Diretora do ACES em questão.

Resultados

Avaliação dos utilizadores

Foram questionadas as utentes que frequentaram as aulas do CPNP (vertente pré e pós-parto) a partir de agosto de 2020 quando se iniciaram as sessões por videoconferência, até junho de 2021. Responderam ao questionário 70% das frequentadoras do CPNP (42 das 60 inquiridas). Os questionários foram enviados para a puérpera/mãe, mas também o pai/pessoa significativa da criança, foi convidado a responder caso tivesse participado nas sessões. Os dados são apresentados na tabela nº 1.

Os inquiridos, são todos do sexo feminino, 57,1% encontram-se na faixa etária dos 31 aos 40 anos, 38,1% encontram-se na faixa etária dos 21 aos 30 anos e com menor expressão encontra-se a faixa etária abaixo ou igual aos 20 e com mais de 40 anos (ambas com 2,1%). A análise dos dados revelou também que a maioria das grávidas frequentou o CPNP no seguimento da gravidez do primeiro filho (81%), sendo que 14,3% já tinham frequentado um curso anteriormente e 4,7% tinham tido outra gestação, mas não frequentaram nenhum curso desta natureza.

Apesar de verificarmos que no decorrer das sessões por videoconferência não houve uma presença expressiva de pais, quando questionadas, 69% das inquiridas consideram que a organização do curso online facilita a presença do pai nas sessões. Responderam negativamente a esta questão 12% das inquiridas e 19% responderam que talvez facilite.

No que diz respeito à frequência das sessões pré parto (11 sessões preconizadas), 71,4% das inquiridas assistiram entre 10 e 11 sessões, 21,4% assistiram entre 5 a 9 sessões e 7,2% assistiram entre 1 a 4 sessões. Relativamente ao motivo apresentado para absentismo às sessões, constatamos que a maioria (58,3%) referiu ter tido sobreposição de horário com consultas/exames, 13,9% revelam ter faltado por incompatibilidade laboral, 13,9% por falha na internet, 11,1% revelam outros motivos (não especificados) e 2,8% revelam motivos de saúde.

Relativamente ao número de sessões realizadas no curso, 73,8% das inquiridas consideram muito adequado, 21,4% consideram adequado, 2,4% expressam opinião neutra e 2,4% consideram insuficiente. No que diz respeito à adequabilidade do horário das sessões online, 57,1% das inquiridas consideram-no muito adequado, 31% consideram-no adequado e 11,9% expressam opinião neutra.

No âmbito da avaliação do CPNP na sua globalidade, 83,3% das inquiridas avaliam-no como excelente e 16,7% como bom. Assim, todas as respondentes revelam um grau de satisfação bastante elevado com o CPNP. No que diz respeito à adequabilidade dos temas abordados 81% consideram-nos bastante adequados, 16,7% consideram-nos adequados e 2,3% expressam opinião neutra. Considerando a segurança (devido à pandemia por SARS-CoV-2), as inquiridas manifestaram um grau de satisfação elevado tendo em consideração o facto de a organização do curso ter recorrido a sessões online. Assim, 83,3% das inquiridas revelam estar muito satisfeitas e 14,3% satisfeitas e 2,4% têm uma opinião neutra.

A perceção das inquiridas acerca da aquisição/partilha de conhecimentos entre participantes proporcionadas pelas sessões online foi positiva para 76,1% das inquiridas, 16,7% têm opinião neutra e 7,2% têm uma perceção negativa. O facto de existir uma perceção negativa por parte de algumas das inquiridas, talvez se prenda pela inexistência da presença física e falha técnica por parte dos equipamentos utilizados.

No que diz respeito à aquisição de competências práticas, as respostas foram tendencialmente negativas, sendo que 26,2% referem que as sessões online dificultaram muito a aquisição deste tipo de competências, 16,4% referem que dificultaram, 38% tiveram opinião neutra e 19,1% responderam positivamente. O fato de existir descontentamento nesta área, deve-se provavelmente à dificuldade acrescida de treinar e validar competências instrumentais em sessões não presenciais. A organização tenta resolver a falta de treino prático durante as sessões online, na consulta presencial personalizada com o casal, de forma a colmatar as dificuldades manifestadas. Relativamente à acessibilidade aos cuidados, o facto de as sessões terem sido realizadas por videoconferência foi percecionada por 76,2% dos inquiridos de forma positiva, 19% tiveram opinião neutra e 4,8% referem ter dificultado.

O momento presencial programado no curso e personalizado às necessidades da grávida/casal foi frequentado pela maioria das inquiridas (81%) por volta da 37ª semana de gestação. Das grávidas que não usufruíram desta consulta, 83,3 % referiram motivos de origem pessoal ou outros não especificados e 16,7% referiu ter tido parto pré-termo. Entre as frequentadoras todas consideram esta consulta útil para consolidar conhecimentos e competências no âmbito da parentalidade. Nenhuma inquirida respondeu negativamente a esta questão, esta parece ser uma mais-valia importante no curso.

De forma a promover a segurança, qualidade e acessibilidade do CPNP, as inquiridas foram convidadas a opinar acerca do que consideram importante no CPNP num futuro pós-pandémico, nomeadamente no retorno a aulas presenciais em grupo. Assim, 19% das inquiridas referem que deveriam ser retomadas as sessões presenciais em todas as sessões; 7,2% consideram que as aulas online promovem o acesso e facilitam a sua presença e 73,8% consideram que o ideal seria um método misto (aulas presenciais e por videoconferência). Estes valores manifestam um elevado grau de satisfação com a nova organização do curso, manifestando o agrado de manter o curso com sessões online após pandemia.

Tabela 1 – Características sociodemográficas das inquiridas e opinião sobre o CPNP


Análise dos profissionais de saúde

Ambiente interno – pontos fortes

A análise feita pelos profissionais de saúde permitiu identificar como pontos fortes no ambiente interno, a existência prévia de equipamento (muito pertencente aos profissionais de saúde) para efetuar videochamada, que possibilitou a continuidade das sessões do CPNP a distância, mantendo os níveis de literacia dos pais e os cuidados de proximidade, com segurança, na situação pandémica. Cabe aqui também sublinhar algumas competências para a utilização destas metodologias, já presentes nos profissionais da equipa de CPNP, componente que favoreceu todo o processo de transição.

Outro dos aspetos também destacado foi o facto desta modalidade permitir chegar simultaneamente a mais grávidas/puérperas e respetivas pessoas significativas, favorecendo uma economia de escala, mantendo-se os níveis de integração de cuidados - o curso manteve-se multidisciplinar e houve partilha de informações entre serviços sempre que foi pertinente.

Identificou-se também como aspeto positivo a poupança no uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI´s), a poupança de recursos humanos e materiais na higienização de espaços e descontaminação de materiais após cada sessão, promovendo-se assim a segurança dos utentes e profissionais, prevenindo-se a infeção e contaminação por contacto social alargado.

Ambiente interno – pontos fracos

Como pontos fracos foi identificada dificuldade de requisição de equipamento técnico audiovisual (câmara, computador, sistema de som), com necessidade de recurso a equipamentos pessoais, verificando ainda que o material existente em contexto institucional nem sempre apresentava as características necessárias para as exigências

desta situação – utilização de vídeos, sessões frequentes, em versão curta e longa. Foi também identificado como um aspeto não facilitador deste processo o parco equipamento técnico disponível (manequins, bolas, colchões), com necessidade frequente de recurso a manequins pessoais (dos profissionais de saúde da equipa).

Cabe também referir a possível dificuldade de adesão de grávidas e puérperas, ainda que em número residual, às sessões na modalidade a distância. Esta situação foi mais evidente em mulheres com níveis de literacia mais baixos (nomeadamente ao nível das competências digitais) ou com deficit de equipamentos tecnológicos que permitissem um acesso, com um nível aceitável de qualidade, às sessões por esta via.

Dos aspetos negativos identificados, que gerou maior percentagem de consenso entre os elementos da equipa foi, inquestionavelmente, a dificuldade sentida pelo formador em validar se todas as grávidas/ puérperas estão a acompanhar e a interiorizar os conteúdos que estão a ser veiculados. Aqui, a ausência da proximidade física configura-se como um obstáculo à avaliação do feedback no processo comunicacional de aprendizagem. Este aspeto fica particularmente patente na avaliação da aquisição de habilidades instrumentais após o ensino de conteúdos de natureza prática, como é o caso do banho do bebé, ainda que, exista a possibilidade de ultrapassar essa questão na consulta personalizada das 37 semanas.

Ambiente externo – oportunidades

Dos aspetos identificados como oportunidades, o maior conforto para a grávida/ casal/puérpera foi um dos que conseguiu maior consenso entre os elementos da equipa, a possibilidade de o pai assistir às sessões mesmo não estando junto da grávida (por estar a trabalhar, por exemplo), através de outra conta de email foi outra das oportunidades identificadas para as sessões a distância.

A possibilidade de gravação de aulas, permitindo aos pais rever a sessão de acordo com as suas necessidades, a maior compatibilidade com as rotinas do quotidiano e dinâmica familiar principalmente no puerpério, foram também aspetos identificados como oportunidades, que a modalidade online apresenta nesta área dos cuidados às famílias a viver processos de transição para a parentalidade.

A promoção da equidade, uma das dimensões da qualidade em saúde, foi outra das oportunidades identificadas pelos vários elementos da equipa, refletindo-se em vários aspetos, nomeadamente, ao permitir que grávidas em repouso absoluto no leito, ou que têm limitações de transporte para o Centro de Saúde, frequentem as sessões. Constatou-se também que esta modalidade, permite que outro(s) elemento(s) da família alargada também adquiram conhecimentos/competências para colaborarem nos cuidados à grávida/puérpera e ao bebé.

E não menos importante, destaca-se aqui uma vez mais, a possibilidade da interação social sem os constrangimentos do distanciamento social com a inexistência do risco de transmissão da infeção.

Ambiente externo/ Ameaças

Embora se destaquem neste processo de adaptação os aspetos positivos e as oportunidades que emergiram, foram também identificadas ameaças, muito particularmente as que estão relacionadas com aspetos técnicos como a falta de rede de internet e outros problemas tecnológicos neste âmbito. Algumas grávidas não possuem equipamento adequado ou competências informáticas que permitam um acesso sem condicionamentos às sessões e aos conteúdos.

Atendendo a que o CPNP envolve claramente a transmissão de um conjunto de conhecimentos relativos a vários aspetos relacionados com o ciclo maternal, mas também tem como finalidade o desenvolvimento de um conjunto de competências instrumentais, foi unanimemente identificada como uma ameaça a dificuldade no treino de atividades de natureza mais prática nas sessões online. Constata-se também que a falta de contato presencial parece condicionar o "à-vontade" das participantes para colocarem dúvidas e, por outro lado, parece também que o espírito de grupo não se desenvolve de forma tão fácil como quando as sessões são presenciais.

Análise SWOT

Na tabela 2, é apresentada a análise SWOT do processo de transição do CPNP da sua metodologia habitual – presencial, para o formato à distância em virtude da crise pandémica que emergiu durante o ano de 2020. Esta análise foi desenvolvida com base nos contributos dados pelos utilizadores (grávidas e puérperas) e por um grupo de profissionais de saúde que integram a equipa do CPNP.

Tabela 2 – Análise SWOT


Conclusões

O cuidar pressupõe o contacto direto, entre o profissional e o seu utente e as estratégias de comunicação mais utilizadas são aquelas que permitem o contacto face a face entre as pessoas; o estabelecimento de uma relação de ajuda é mais fácil, o toque é efetivo, os silêncios e as informações subtis são mais acuradas. No entanto, o rápido desenvolvimento tecnológico permite inúmeras formas de comunicarmos e de estarmos juntos, mesmo a distância.

Os meses de março e abril de 2020 e os que se sucederam, foram, na UCC Talábriga, meses de adaptação e um teste à resiliência do sistema face às restrições impostas pela pandemia Covid-19. Foi necessário encontrar alternativas para ajustar a carteira de serviços das unidades funcionais às orientações emanadas pela DGS, promovendo as medidas de contenção da pandemia emergente. A população-alvo do CPNP é uma população vulnerável e de risco, pelo que se tornou imprescindível encontrar uma alternativa de ajustamento ao isolamento social e à restrição de atividades de grupo, exigidas pela DGS face à situação epidemiológica, que substituísse as tradicionais atividades presenciais, promovendo a segurança de utentes e profissionais.

Numa primeira fase, a UCC Talábriga suspendeu o CPPN nos meses de março, abril, maio, junho e julho de 2020 como atividade de grupo e fez intervenções individuais com contactos telefónicos/videoconferências periódicos até agosto de 2020, altura em que iniciou a atividade grupal por videoconferência no pré-parto. A atividade grupal, online, no pós-parto teve início em janeiro de 2021. Recorreu-se assim à utilização das tecnologias de comunicação já existentes, muitas vezes subaproveitadas por não serem utilizadas em contexto de trabalho diário, no contato com os utentes, para aumentar a acessibilidade aos cuidados de saúde.

Tendo em conta a avaliação SWOT, podemos afirmar que a adaptação do CPNP para uma estratégia online teve vários pontos positivos, de onde enfatizamos a possibilidade de manutenção de cuidados de proximidade em situação de confinamento com segurança,

a facilidade de acesso à informação no conforto do lar ou de qualquer local, permitindo o alargamento da informação a todos os elementos da família, para além de haver uma considerável poupança de EPI´s.

No entanto, também não podemos deixar de referir os pontos fracos principais, como a dificuldade de validação imediata da aprendizagem de conteúdos no âmbito das competências práticas e as dificuldades relacionadas com a utilização de equipamento técnico, rede de internet e equipamento informático.

Por outro lado, encontramos importantes oportunidades nesta análise, como o maior conforto e compatibilidade nas rotinas da grávida e família, a possibilidade de gravação das sessões permitindo a sua visualização sempre que pertinente, para além de permitir a interação social sem constrangimentos, levando também à equidade no acesso aos cuidados.

As ameaças estão relacionadas essencialmente com possíveis situações discriminatórias nas populações menos letrada.

Consideramos que o facto de reestruturarmos o CPNP da UCC Talábriga devido à pandemia Covid-19, nos permitiu “pensar fora da caixa” e inovar procedimentos no sentido de adaptar o curso às necessidades das novas gerações de pais provenientes de uma sociedade cada vez mais tecnológica. A área da saúde materna foi provavelmente uma das áreas que sofreu maior incremento na utilização das novas tecnologias, muito pela literacia da população alvo, grande parte com habilitações literárias elevadas e competências adquiridas anteriormente na utilização de novas tecnologias. Atualmente grande parte das gravidas/puérperas tem smartphones, computador e internet o que facilita a comunicação dos profissionais de saúde com esta população.

Assim parece-nos pertinente dar continuidade à realização de sessões em grupo por videoconferência, alternando com outras presenciais, utilizando um modelo misto, assim que o nível de risco comunitário o permita. E, quando tal for possível, criarmos, utilizando o desenvolvimento tecnológico, filmes e outro material educativo neste contexto, que permita, aos pais, o acesso à informação em qualquer altura e circunstância. Cremos que esta opção ampliará a acessibilidade e equidade dos cuidados de saúde à família a viver este processo de transição.

Pelo exposto, consideramos como aspetos positivos decorrentes da restruturação do CPPNP, a manutenção num futuro pós-pandémico, do recurso à videoconferência para modificar a conceção de tempo e de espaço e ampliar o acesso à informação(16), que acreditamos facilitará o incremento da literacia em saúde. Para ultrapassar alguns dos aspetos negativos apontados na análise SWOT seria importante a aquisição de material para as aulas práticas (manequins, almofadas, etc.) e material tecnológico (computadores, sistemas de som, camaras, internet livre, etc.), não só para os profissionais, mas também com a possibilidade de cedência aos utilizadores com limitações neste âmbito.

Face às dificuldades sentidas durante o período pandémico pela Covid-19, a equipa do CPNP da UCC Talábriga, demonstrou ser resiliente, mantendo e ampliando o nível de excelência de cuidados, através de recursos tecnológicos e da adaptação e reorganização do curso de CPNP, transformando as sessões presenciais para o formato online, num novo olhar sobre as práticas anteriormente instituídas, colocando a tecnologia ao serviço da saúde com qualidade e segurança.

Este projeto, pelas suas características, pode ser implementado/ replicado em qualquer lugar, desde que haja disponibilidade de meios técnicos.

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